sábado, 30 de agosto de 2008

Os Lusíadas_Luis de Camões

Luís Vaz de Camões



Canto I (Parte I)



1
As armas e os barões assinalados
Que da Ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca dantes navegados
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram;

2
E também as memórias gloriosas
Daqueles Reis que foram dilatando
A Fé, o Império, e as terras viciosas
De África e de Ásia andaram devastando,
E aqueles que por obras valerosas
Se vão da lei da Morte libertando,
Cantando espalharei por toda parte,
Se a tanto me ajudar o engenho e arte.

3
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
Cale-se de Alexandre e de Trajano
A fama das vitórias que tiveram;
Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.

4
E vós, Tágides minhas, pois criado
Tendes em mi um novo engenho ardente,
Se sempre em verso humilde celebrado
Foi de mi vosso rio alegremente,
Dai-me agora um som alto e sublimado,
Um estilo grandíloco e corrente,
Por que de vossas águas Febo ordene
Que não tenham enveja às de Hipocrene.

5
Dai-me hüa fúria grande e sonorosa,
E não de agreste avena ou frauta ruda,
Mas de tuba canora e belicosa,
Que o peito acende e a cor ao gesto muda;
Dai-me igual canto aos feitos da famosa
Gente vossa, que a Marte tanto ajuda;
Que se espalhe e se cante no Universo,
Se tão sublime preço cabe em verso......

http://www.revista.agulha.nom.br/camoes1.html


Esta é considerada a  obra-prima da língua portuguesa e Luís de Camões, conta em versos a grande epopéia portuguesa, a descoberta do caminho marítimo para s Índias...Uma revolução no conhecimento da Geografia,Biologia,  Antropologia, na Arte de Navegar, uma ampliação no conhecimento de outras culturas e dilatação das relações comerciais entre Oriente e Ocidente,  pois as mercadorias que eram  sobretaxadas, porque percorriam diversos países até chegar ao Ocidente...Um golpe fatal no Império Turco-Otomano e   ainda  novas terras  tornaram-se conhecidas para os Europeus, como as Américas....

A descoberta do caminho maritímo para as Indias




Descoberta do caminho marítimo para a Índia

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.


O movimento de expansão foi iniciado pelo Infante D. Henrique.

O projecto para o caminho marítimo para a Índia foi delineado por D. João II como medida de redução dos custos nas trocas comerciais com a Ásia e tentativa de monopolizar o comércio das especiarias. A juntar à cada vez mais sólida presença marítima portuguesa, D. João almejava o domínio das rotas comerciais e expansão do reino de Portugal que já se transformava em Império. Porém, o empreendimento não seria realizado durante o seu reinado. Seria o seu sucessor, D. Manuel I que iria designar Vasco da Gama para esta expedição, embora mantendo o plano original.

Porém, este empreendimento não era bem visto pelas altas classes. Nas Cortes de Montemor-o-Novo de 1495 era bem patente a opinião contrária quanto à viagem que D. João II tão esforçadamente havia preparado. Contentavam-se com o comércio da Guiné e do Norte de África e temia-se pela manutenção dos eventuais territórios além-mar, pelo custo implicado na expedição e manutenção das rotas marítimas que daí adviessem. Esta posição é personificada na personagem do Velho do Restelo que aparece, n'Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões, a opor-se ao embarque da armada.

El-Rei D. Manuel não era dessa opinião. Mantendo o plano de D. João II, mandou aparelhar as naus e escolheu Vasco da Gama, cavaleiro da sua casa, para capitão desta armada. Curiosamente, segundo o plano original, D. João II teria designado seu pai, Estêvão da Gama, para chefiar a armada; mas a esta altura tinham ambos já falecido.

A 8 de Julho de 1497 iniciava-se a expedição semi-planetária que terminaria dois anos depois com a entrada da nau Bérrio rio Tejo adentro, trazendo a boa-nova que elevaria Portugal, durante décadas, ao imortal prestígio marítimo.

Antecedentes

As especiarias eram, desde sempre, consideradas o ouro das Índias. A canela, o gengibre e a pimenta eram produtos difíceis de obter, pelos quais se esperavam caravanas e mercadores experientes vindos do Oriente.
Antes do empreendimento, D. João II procurou saber informações de um alegado reino do Preste João, um cristão que talvez pudesse colaborar com os portugueses.


Um mercador de Lisboa descreve a rota terrestre da especiaria da seguinte forma:

"Desta terra de Calecute vai a especiaria que se come em Portugal e em todas as províncias do Mundo; vão também desta cidade muitas pedras preciosas de toda a sorte. Aqui carregam as naus de Meca a especiaria e a levam a uma cidade que está em Meca que se chama Judeia. E pagam ao grande sultão o seu direito. E dali a tornam a carregar em outras naus mais pequenas e a levam pelo Mar Ruivo a um lugar que está junto com Santa Catarina do Monte Sinai que se chama Tunis e também aqui pagam outro direito. Aqui carregam os mercadores esta especiaria em camelos alugados a quatro cruzados cada camelo e a levam ao Cairo em dez dias; e aqui pagam outro direito. E neste caminho para o Cairo muitas vezes os salteiam os ladrões que há naquela terra, os quais são alarves e outros.»
«Aqui tornam a carregá-la outra vez em umas naus, que andam num rio que se chama o Nilo, que vem da terra do Preste João, da Índia Baixa; e vão por este rio dois dias, até que chegam a um lugar que se chama Roxete; e aqui pagam outro direito. E tornam outra vez a carregá-la em camelos e a levam, em uma jornada, a uma cidade que se chama Alexandria, a qual é porto de mar. A esta cidade de Alexandria vêm as galés de Veneza e de Génova buscar esta especiaria, da qual se acha que há o grande sultão 600 000 cruzados; dos quais dá, em cada ano, a um rei que se chama Cidadim 100 000 para que faça guerra ao Preste João."

Dos mercados de Veneza e Génova só então eram espalhadas para toda a Europa estas especiarias, acrescidas imensamente no seu custo e sem chegada garantida. O proveito dos portugueses em estabelecer uma rota marítima, portanto praticamente isenta de assalto — não obstante, coberta de perigos no mar —, mostrava-se recompensador e esboçava no futuro um grande rendimento à Coroa. Portugal iria ligar directamente as regiões produtoras das especiarias aos seus mercados na Europa.



Cerca do ano de 1481, João Afonso de Aveiro, ao fazer exploração do reino de Benim, colhera informações acerca de um quase lendário príncipe Ogané, cujo reino situava-se muito para o Oriente do de Benim. Seria cristão e gozava de grande veneração e poder. Dizia-se em Benim que o reino de Ogané distava vinte luas de andadura, o que, segundo o relato de João de Barros, corresponderia a duzentas e cinquenta léguas.

Animado com tais notícias, D. João II enviou, em 1487, Frei António de Lisboa, e Pedro de Montarroio para colherem no Oriente novas informações que permitissem localizar o Preste João, ao qual parecia corresponder, afinal, a descrição que lhe chegava desse príncipe Ogané. Mas a missão desses enviados não passou de Jerusalém, porque esses dois portugueses desconheciam a língua árabe e por isso temeram continuar, e regressaram a Portugal.

Com muito cuidado e segredo preparou dois novos homens da sua confiança, Afonso de Paiva, de Castelo Branco, e Pêro da Covilhã. Iniciando caminho por Valência, Barcelona, Nápoles, Rodes, Alexandria, Cairo, Adem. Aqui se deveriam separar para destinos diferentes: Afonso de Paiva para a Etiópia e Pêro da Covilhã para a Índia. Nenhum dos homens voltou, mas as informações que D. João necessitava retornaram ao reino e serviriam de base de sustentação à eventual épica aventura marítima que se avizinhava.

O plano de viagem teria então que prever a segurança da rota. Para isso seria necessário instalar feitorias ao longo do caminho, e criar fortalezas. A missão caberia ao capitão da armada que ia munido de muitos presentes e equipamento para desbravar os mares e atestado de diplomacia e perseverança para criar elos com os monarcas desconhecidos que eventualmente encontrasse pelo caminho.

Mas já não seria no reinado de D. João que este empreendimento, com forte oposição da corte, seria iniciado, mas sim no de seu sucessor, D. Manuel I que não partilhava da opinião geral e via nas rotas marítimas uma boa — senão a melhor — forma de dominar o comércio com o Oriente.

A armada

Nau Capitão Piloto Mestre Escrivão
São Gabriel Vasco da Gama Pêro de Alenquer Gonçalo Álvares Diogo Dias
São Rafael Paulo da Gama João de Coimbra — João de Sá
Bérrio Nicolau Coelho Pêro Escobar — Álvaro de Braga
Navio de
mantimentos Gonçalo Nunes

Entre os mareantes, incluiam-se dois intérpretes, Fernão Martins e Martim Afonso, e dois frades, João Figueira e Pêro da Covilhã. Ao todo, as tripulações perfaziam 170 homens.

Os marinheiros dispunham de cartas de marear onde estava marcada toda a costa africana conhecida até então, de quadrantes, astrolábios de vários tamanhos, de regimentos e de tábuas com cálculos — como as tábuas astronómicas de Abraão Zacuto —, de agulhas e prumos. Um dos navios transportava exclusivamente mantimentos para três anos: biscoitos, feijão, carnes secas, vinho, farinha, azeite, salmouras e outras coisas de botica. Estava previsto o reabastecimento contínuo ao longo da costa de África. A viagem á Índia foi realizada por 3 naus e um navio de mantimentos. Nessas três naus ia um capitão, um piloto. No navio de mantimentos ia só um capitão. Nas duas naus ia também um escrivão. Na primeira nau ia um mestre

viagem


Iniciava-se, assim, a expedição a 8 de Julho de 1497. A linha de navegação de Lisboa a Cabo Verde foi a habitual e no Oceano Índico é descrita por Álvaro Velho: «rota costeira até Melinde e travessia directa deste porto até Calecute». Durante esta expedição foram determinadas latitudes através da observação solar, como refere João de Barros.

Relatam os Diários de Bordo das naus muitas experiências inéditas. Encontrou esta ansiosa tripulação rica fauna e flora. Fizeram contacto perto de Santa Helena com tribos que comiam lobos-marinhos, baleias, carne de gazelas e raízes de ervas; andavam cobertos com peles e as suas armas eram simples lanças de madeira de zambujo e cornos de animais; viram tribos que tocavam flautas rústicas de forma coordenada, o que era surpreendente perante a visão dos negros pelos europeus. Ao mesmo tempo que o escorbuto se instalava na tripulação, cruzavam-se em Moçambique com palmeiras que davam cocos.

Apesar das adversidades de uma viagem desta escala, a tripulação mantinha a curiosidade e o ânimo em conseguir a proeza e conviver com os povos. Para isso reuniam forças até para assaltar navios em busca de pilotos. Com os prisioneiros, podia o capitão-mor fazer trocas, ou colocá-los a trabalhar na faina; ao rei de Mombaça pediu pilotos cristãos que ele tinha detido e assim trocou prisioneiros. Seria com a ajuda destes pilotos que chegariam a Calecute, terra tão desejada, onde o fascínio se perdia agora pela moda, costumes e riqueza dos nativos.

Sabe-se, por Damião de Góis, que durante a viagem foram colocados cinco padrões: São Rafael, no rio dos Bons Sinais; São Jorge, em Moçambique, Santo Espírito, em Melinde; Santa Maria, nos Ilhéus, e São Gabriel, em Calecute. Estes monumentos destinavam-se a afirmar a soberania portuguesa nos locais para que outros exploradores não tomassem as terras como por si descobertas.

A chegada à Índia

A entrada em Calecute sofreu alguma oposição, também devido ao patrocínio dos mercadores árabes que queriam manter os Europeus afastados. A perseverança de Vasco da Gama fez com que se iniciassem, mesmo assim, as negociações entre ele e o samorim, de onde resultava uma carta comprovatória do encontro que dizia:

«Vasco da Gama, fidalgo da vossa casa, veio à minha terra, com o que eu folguei. Em minha terra, há muita canela, e muito cravo e gengibre e pimenta e muitas pedras preciosas. E o que quero da tua é ouro e prata e coral e escarlata».

O retorno


A 12 de Julho de 1499, depois de mais de dois anos do início desta expedição, entra a caravela Bérrio no rio Tejo, comandada por Nicolau Coelho, com a notícia que iria emocionar Lisboa: os portugueses chegaram à Índia pelo mar. Vasco da Gama tinha ficado para trás, na ilha Terceira, preferindo acompanhar o seu irmão, gravemente doente, renunciado assim aos festejos e felicitações pela notícia.

Das naus envolvidas, apenas a São Rafael não regressou, pois teria sido queimada por incapacidade de a manobrar, consequência do reduzido número a que se via a tripulação no regresso, fruto das doenças responsáveis pela morte de cerca de metade da tripulação, como o escorbuto, que se fez sentir mais afincadamente durante a travessia do Oceano Índico.

Vasco da Gama retornava ao país em 29 de Agosto e seria recebido pelo próprio rei D. Manuel I com contentamento que lhe atribuía o título de Dom e grandes recompensas. Fez Nicolau Coelho fidalgo da sua casa, assim como a todos os outros, conforme os serviços que haviam prestado.

D. Manuel I apressa-se a dar a notícia aos reis de Espanha, numa exibição orgulhosa do feito e para avisar, simultaneamente, que as rotas seriam doravante exploradas pela Coroa Portuguesa.

Há notícia de um mercador italiano que espalhou por Florença a boa-nova: «Descobriram 1800 léguas de novas terras além do Cabo da Boa Esperança, cujo cabo foi descoberto no tempo do rei João. O capitão descobriu uma grande cidade muralhada , com muito boas casas de pedra, no estilo mourisco, habitada por mouros da cor dos indianos. O capitão desembarcou aqui e o rei deu-lhe um piloto para cruzar o golfo». O mercador referia-se a Melinde.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

O poder do alho (Allium sativum)

Alho

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Wikipedia:Como ler uma caixa taxonómica
Como ler uma caixa taxonómica
Alho
"Cabeças de alho" e "dentes de alho"
"Cabeças de alho" e "dentes de alho"
Classificação científica
Reino: Plantae
Divisão: Magnoliophyta
Classe: Liliopsida
Ordem: Asparagales
Família: Alliaceae
Subfamília: Allioideae
Tribo: Allieae
Género: Allium
Espécie: A. sativum
Nome binomial
Allium sativum
L.

São designadas como alho algumas plantas do gênero Allium (mas não só), embora o termo se aplique especificamente ao Allium sativum, uma planta perene cujo bulbo (a "cabeça de alho"), composto por folhas escamiformes (os "dentes de alho"), é comestível e usado tanto como tempero como para fins medicinais.

O alho é utilizado desde a antiguidade como remédio, sendo usado no Antigo Egito na composição de vários medicamentos. Suas propriedades anti-microbianas e os seus efeitos benéficos para o coração e circulação sanguíneaIdade Média. Possui um ótimo valor nutricional, possuindo vitaminas (A, B2, B6, C), aminoácidos, adenosina, sais minerais (ferro, silício, iodo) e enzimas e compostos biologicamente ativos, como a alicina. O alho costuma ser indicado como auxiliar no tratamento de hipertensão arterial leve, redução dos níveis de colesterol e prevenção das doenças ateroscleróticas. Também se atribui ao alho a capacidade de prevenir resfriados e outras doenças infecciosas, e de tratar infecções bacterianas e fungicas. já eram valorizados na

 Culinária

Na culinária pode ser utilizado de diversas formas, cru, refogado, picado, em rodelas, etc, conforme os gostos que são pouco unânimes. Em geral, os povos mediterrânicostomate e a cebola. Outros povos, menos adeptos do seu uso, chegaram a designar a planta como "rosa fétida", devido ao seu odor forte e picante proporcionado pela essência de alho ou dialil sulfito (C3H5)2S. Quando consumido em quantidades elevadas, esse odor pode tornar-se evidente no suor de quem o ingeriu. O hálito característico e geralmente considerado desagradável pode ser minimizado se for consumida também salsa fresca. são os maiores apreciadores, empregando-o, geralmente, em conjunto com o

Uma curiosidade aos apreciadores da "rosa fétida" é um restaurante de mesmo nome, em Inglês chamado de "Stink Rose", localizado em São Francisco (California), nos Estados Unidos da América. Sendo um restaurante temático de conceito interessante a maior parte do que pode ser consumido é temperado com alho e algum dos alimentos apresentam um gosto bem marcante deste tempero. Mais interessante ainda é a existência de um vinho carregado de seu sabor e cheiro e de uma sobremesa peculiar, o sorvete de alho. O restaurante possui ainda uma filial em Beverly Hills.

Outros tipos de "alho"

São também designadas como alho as seguintes plantas:

  • Alho-da-campina - o mesmo que alho-do-mato
  • Alho-das-vinhas (Allium vineale)
  • Alho-de-espanha (Allium scorodoprasum)
  • Alho-do-campo - o mesmo que alho-do-mato
  • Alho-do-mato (Cipura paludosa)
  • Alho-espanhol - o mesmo que alho-de-espanha
  • Alho-francês - o mesmo que alho-porro
  • Alho-grosso-de-espanha - o mesmo que alho-de-espanha
  • Alho-macho - o mesmo que alho-porro
  • Alho-mágico (Allium nigrum)
  • Alho-mourisco - o mesmo que Alho-de-espanha
  • Alho-negro - o mesmo que Alho-mágico
  • Alho-ordinário - o mesmo que alho (Allium sativum)
  • Alho-poró - o mesmo que alho-porro
  • Alho-porro (Allium porrum) ou porro-hortense (segundo alguns autores, pode ser considerado apenas como uma variante de Allium ampeloprasum)
  • Alho-porró - o mesmo que alho-porro
  • Alho-porrô - o mesmo que alho-porro
  • Alho-porro-bravo (Allium ampeloprasum)
  • Alho-rocambole - o mesmo que alho-de-espanha
  • Alho-rosado (Allium roseum)
  • Alho-sem-mau-cheiro (Nothoscordum gracile e Nothoscordum striatum)
  • Alho-silvestre (Nothoscordum striatum)


Benefícios do alho
O alho é originário da Ásia Central, e desde 1500 suas propriedades medicinais já eram conhecidas em diversos países.

Na antiga China e na Índia, era utilizado para diminuir a coagulação sangüínea, e no Egito e na Grécia era considerado afrodisíaco. No século XIX Luis Pasteur, grande químico francês, demonstrou as propriedades anti-sépticas do alho.
Nos últimos anos os cientistas começaram a estudá-lo mais intensamente.

Muitas pesquisas enfocam os efeitos do alho no colesterol e na pressão arterial e indicam que a alicina, uma substância química que se forma quando ele é esmagado e confere o seu odor característico, reduz os níveis de colesterol e promove a diminuição da pressão arterial.

Por sua vez, parte da alicina é rapidamente degradada em outros compostos sulfúricos, como o ajoeno, que também pode ter propriedades medicinais.
Os benefícios do alho podem ser atribuídos a sua ação antioxidante, combatendo os radicais livres, sendo esses altamente reativos, prejudicando a estrutura celular e o funcionamento normal do metabolismo da célula.

O alho tornaria menos provável a agregação das plaquetas (as células envolvidas na coagulação sangüínea) e a sua aderência às paredes das artérias, reduzindo a chance de um infarto do miocárdio.

Há evidências de que ele dissolve as proteínas formadoras de coágulo, que podem afetar o desenvolvimento da placa aterosclerótica. Além disso, reduz discretamente a pressão sanguínea, principalmente graças à sua capacidade de dilatar os vasos sanguíneos e ajudar a circulação do sangue.
Outras pesquisas em andamento indicam que o alho contém potencial anticancerígeno.

Por enquanto, acredita-se que o seu consumo diminui o risco de câncer de cólon no ser humano. Além disso, as pesquisas em animais de laboratório mostraram que ele ajuda a diminuir o câncer de mama, pele e pulmão, além de ajudar a prevenir o câncer do cólon e do esôfago.

A quantidade de alho a ser consumida para se obter algum benefício à saúde ainda não foi determinada. Alguns médicos alemães receitam 4 gramas, ou o equivalente a 2 dentes, diariamente, para tratar da hipertensão ou do colesterol elevado.

Algumas pessoas, no entanto, desenvolvem azia (pirose), gases intestinais e diarréia quando tomam doses altas de alho.


Matéria elaborada pela Equipe RGNutri
http://www.sitemedico.com.br/sm/materias/index.php?mat=767

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Floração e frutificação

BIOLOGIA FLORAL

A biologia floral inclui o estudo de todas as manifestações de vida da flor, inclusive a fertilização. Neste sentido a biologia floral mescla-se com a ecologia da polinização, que engloba estudos de interação entre flores e seus visitantes / polinizadores.

- FENOLOGIA - FLORAÇÃO E FRUTIFICAÇÃO


Os eventos fenológicos abrangem seis fases:

• Fase 1 - Botões florais: a fase de botões florais engloba desde o surgimento dos botões florais até o início da antese.

• Fase 2 - Floração: a fase de floração, ou da antese floral, geralmente é considerada a partir do momento em que a maioria das flores está se abrindo nas inflorescências, passando pela fase de expansão completa, até a fase em que, aparentemente, já ocorreu a liberação do pólen; nesta fase as anteras estão escurecendo e os estames estão com início de murchamento.

• Fase 3 - Senescência: nesta fase, as flores ou as inflorescências apresentam aparência descolorada e os estames estão murchos e escurecidos.

• Fase 4 - Formação dos frutos: na fase de formação dos frutos, já é visível, a olho nu, o início de formação dos frutos, conhecida por frutos imaturos, que despontam nos receptáculos florais.

• Fase 5 - Maturação dos frutos: na fase de maturação dos frutos, estes apresentam seu tamanho final, com mudança de coloração nos frutos. Estes não apresentam, ainda, indícios de abertura.

• Fase 6 - Final da deiscência: considera-se como fase 6, a parte final do período reprodutivo; nesta fase, as sementes já foram disseminadas e alguns frutos continuam aderidos ao pedúnculo, conservando-se, às vezes, até a época do novo período reprodutivo.

- DISPERSÃO DE FRUTOS E SEMENTES

Dispersão nome dado aos mecanismos ou meios utilizados pelas plantas para atingir novos locais.
São apresentadas as principais estratégias de dispersão de frutos e sementes utilizadas pelas plantas, com destaque para os principais agente dispersores como: o vento, a água e, especialmente, os animais.

1. Anemocoria ou dispersão pelo vento. Os frutos são secos e deiscentes, com sementes pequenas e leves, normalmente apresentando estruturas aerodinâmicas que auxiliam o vôo, sendo por isso conhecidas como sementes aladas.

2. Autocoria é a dispersão por mecanismos da própria planta, que lança suas sementes pelas redondezas por algum mecanismo particular ou simplesmente libera as sementes diretamente no solo.

3. Hidrocoria, dispersão pela água, inclui frutos com boa capacidade de flutuação e durabilidade no meio aquático. Ocorre em plantas de locais alagados ou próximos de cursos de água ou do mar.

4. Zoocoria, dispersão por animais.

5. Artiodactilocoria, dispersão por ungulados: freqüentemente, esse tipo de dispersão se dá pelo processo de ruminação ou por transporte para outro local por estes agentes.

6. Chiropterocoria, dispersão por morcegos. Morcegos frugívoros (que se alimentam de frutos) desempenham importante papel na dispersão de várias plantas tropicais e subtropicais.

7. Ornitocoria, dispersão pelas aves, está relacionada com a ausência de odor forte e a presença marcante de coloração nos frutos maduros, uma vez que a visão é o principal sentido das aves.

8. Primatocoria, dispersão por primatas. O mono-carvoeiro (Brachyteles acrachnoides) procura as vagens do jatobá, mas retira a polpa e joga fora as sementes.

9. Mirmecoria, dispersão por formigas.

- COR E DENSIDADE DETERMINAM A ESCOLHA DE FRUTOS POR AVES



A cor parece ser um fator importante para a seleção de frutos pelas aves. Frutos vermelhos, por serem mais chamativos, foram mais visitados do que frutos verdes. Aves em cativeiro também revelam preferência aos frutos vermelhos.

Dado que as aves são animais de orientação visual, uma das características do fruto mais importante é a cor: Quanto maior for à densidade de cor, mais fácil ele é visualizado e visitado pela ave. Causando por sua vez a dispersão das sementes.

- CARACTERÍSTICAS DA AVE PODEM INFLUENCIAR NA DISPERSÃO DE SEMENTES



• Tamanho:
Aves maiores podem carregar mais sementes de uma dada planta do que aves menores.

• Largura do bico:
Aves com bico mais largo podem comer frutos maiores do que aves de mesmo tamanho, mas com bico mais estreito.

• Forma de ingestão:
Aves que engolem frutos inteiros são mais eficientes do que aves que “mandibulam" e deixam as sementes cair.

• Taxa de remoção de sementes:
Aves que ingerem mais sementes são mais eficientes.

• Tempo de permanência:
Aves que ficam muito tempo na planta acabam eliminando as sementes embaixo da própria planta.

• Taxa de visitação:
Espécies que visitam com maior freqüência são mais eficientes.

• Comportamento depois de sair da planta:
Se a ave voa para longe, transporta as sementes mais longe.

http://iguinho.ig.com.br/canalnatureza/biologia_floral.html

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

MEDICINA TRADICIONAL


http://es.geocities.com/naturosofia/med_naturopatia.htm

Esse site é o máximo!Muito bom vale a pena ler todo..Mando apenas um trecho com o amostra...


NATUROPATIA

OS POVOS TRADICIONAIS

Os Mais Tradicionais…

Melhor do que nós, os povos primitivos – tradicionais, como agora os designamos – sabiam o que era necessário para os cuidados com a sua saúde.

É certo que o conceito de enfermidade se revestia de aspectos mágicos, encerrando mistérios que se interligavam às suas convicções e à sua percepção do mundo, onde quase tudo era mais espiritual do que físico. Por isso, as funções de médico só deviam ser desempenhadas por alguém com conhecimentos do mundo espiritual: o Xamã. Como facilmente podemos compreender, não se adoecia por excessos alimentares, nem por consumo de substâncias refinadas, transformadas, aditivadas, cozinhadas em micro–ondas, ou em recipientes de teflon.... Por isso, procuravam as causas da enfermidade em coisas mais “simples”, como o desrespeito a uma regra da sociedade, um “bruxedo” ou “mau olhado”, a “possessão” por uma entidade espiritual, a “perda da alma” por um susto, etc..

No mecanismo da cura, desencadeado pelo Xamã através de rituais apropriados, entrava em funcionamento a capacidade sugestiva ou força psíquica do enfermo, pela mobilização de poderosas ideias que faziam parte do inconsciente colectivo da comunidade.

As substâncias medicamentosas coadjuvantes da cura actuavam não apenas pela sua composição, mas, e principalmente, pelo “prestígio espiritual” do administrante, a quem se acreditava dominar forças e poderes ocultos. E mesmo assim, a utilização destas substâncias era precedida e acompanhada de rituais apropriados, assim como também a sua colheita e preparação.

O facto do enfermo acreditar que poderia estar doente por ter transgredido uma regra social, dota o Xamã de meios eficazes de cura, ainda que extremamente simples. Passam estes meios pela Confissão, que liberta o doente de toda a angústia, inerente ao mortificante sentimento de culpa (e também deste próprio sentimento), e pela Purificação (água, jejum, dieta rigorosa, vómitos e purgas), que não são outra coisa do que a utilização de alguns dos meios naturais de cura.

Os incas, por exemplo, dedicavam um dia, todos os anos, para se purificarem nos rios. Este ritual incluía a confissão, à qual não faltava o próprio imperador. Os actuais povos tradicionais ameríndios purificam-se pelo vapor da água, tanto em rituais de iniciação, como em rituais de cura, e os hindus ainda efectuam ritos de purificação nas águas do Ganges. Longe do primitivismo e superstição com que as “mentes rápidas” classificam as práticas antigas, são exactamente os conhecimentos antigos que provam o estado de atraso da ciência moderna. Limitando-nos apenas aos aspectos médicos, e sem nos alargarmos muito, foram os hindus que descobriram, cerca de 2000 anos antes dos europeus:

·    a presença de açúcar na urina dos diabéticos;

·    a relação entre o paludismo e os mosquitos;

·    os sinais clínicos externos das fracturas.

Guaiaquis, Guaranis, Polinésios, Iberos...

No alto do Paraná (Brasil), a sudoeste do Paraguai, os Guaiaquis são provavelmente um dos povos que conserva costumes mais primitivos: em vez de edificarem casas, resguardam-se em simples abrigos constituídos por humo prensado e seco, o qual untam com cera, para deter a água; não cobrem o corpo; as suas armas de caça são arcos e flechas de madeira, cujas pontas são constituídas por lascas de pedra. No entanto, com excepção da morte natural (por velhice), a única causa de morte que se lhes conhece resulta da mordedura de víboras.

Na obra “Medicina Geral”, da autoria do Dr. Moisés Santiago Bertoli, existem importantes referências acerca do modo de vida de um outro povo, os Guaranis, que, pelas suas palavras:

“...possuem conhecimentos higiénicos e médicos praticamente tão adiantados como os nossos e comem apenas quando sentem fome, lentamente e em silêncio. A sua alimentação, em grande parte crua, compõe-se de fruta, mel, mandioca e milho, raramente comendo carne. Praticam o jejum com uma certa frequência, como meio de fortalecer o carácter e adquirir domínio sobre o seu corpo. Com o mesmo objectivo e para se conservarem fortes e ágeis, praticam constantemente jogos e lutas, sempre com o corpo nu, molhando-se de vez em quando...”.

Antes das últimas guerras mundiais, os polinésios mantinham as suas tradições e viviam em condições parecidas às dos povos referidos. Eram gente sã, equilibrada e pacífica, antes do contacto com a nossa civilização; a influência do contacto com o nosso modo de vida, e as consequentes transformações que neles operou, tornou necessários os hospícios que agora lá existem.

É verdade que prevalecem ainda tribos, em diferentes locais do mundo, onde as condições de higiene e de alimentação não são exemplo para ninguém, incluindo-se nela a carne humana. Mas esta crueldade e estupidez não nos parecem representativas de formas tradicionais de vida, sendo o mais certo que constituam as últimas heranças, cada vez mais degeneradas, de antigas e decadentes civilizações sanguinárias.

Heródoto

(484-425 a.C.)

Nasceu em Halicarnasso, na Grécia. A sua fama como historiador fê-lo merecer a consideração de “pai da História”.

Foi grande viajante, conheceu a Ásia Menor, o Egipto, a Fenícia e a Mesopotâmia. Estas viagens constituíram a principal fonte da sua obra, repartida por nove livros, cada um com o nome de uma Musa, em que relata as façanhas médicas, os costumes, as tradições e os mitos dos povos com quem contactou.

Pesquisadores mais antigos, como Cervantes, revelam-nos que os antigos iberos viviam de um modo semelhante aos polinésios.

Quando, em nome da Ciência, são tecidas críticas aos processos tradicionais de curar, como os utilizados pelos “homens da medicina” índios, que a medicina moderna considera supersticiosos, seria bom que os tão pretensiosos “sábios civilizados” se dessem conta de que entre nós o que não falta são superstições, tendo em atenção a pouca racionalidade – a avaliar pelos efeitos – de muitos processos científicos modernos, que são evidentemente muito mais perigosos.

Quando se fala de progressos da ciência, tem-se quase sempre em conta um período relativamente curto e parcial. O mais antigo que se conhece, pelos escritos de Heródoto e de Plínio, refere-se quase exclusivamente à história do Egipto e da Grécia. Possuem-se algumas informações da ciência hindu, chinesa e caldeia, mas os pontos de comparação estabelecem-se geralmente com relação à história europeia, desde a invasão dos bárbaros.

Na realidade, todas as civilizações passam por processos parecidos de vida simples, primitiva, natural e sã. Mais tarde, “prosperam” e aglomeram-se em povoados e cidades, o que equivale a viver em espaços mais fechados e limitados, e logo, promiscuidade, sedentarismo, ódios, vícios, exploração, miséria, degeneração, revoluções e guerras. Como natural reacção a estes males, quando a civilização não perece, produz-se um renascimento ou uma decadência inevitável e mais ou menos definitiva.

 

CIVILIZAÇÃO ROMANA

O caso da civilização romana é típico: os primeiros romanos eram agricultores pobres, levando uma vida rude, mas sã; a sua alimentação, à base de cereais e hortaliças, e a sua vida simples, garantiu-lhes um triunfo fácil, fazendo-os donos de quase todo o mundo então conhecido. Mas isto levou-os a deixar aos escravos os trabalhos sãos; transformaram-se em soldados de ocupação, em funcionários e em comerciantes dos países ocupados.

A vida mais regalada da comunidade, e a abundância, debilitou pouco a pouco a virilidade da raça; iniciou-se a decadência e veio a destruição da sua civilização.

Os romanos chegaram a extremos inconcebíveis: as orgias sucediam-se sem parar; instalaram nas casas um compartimento especial – o vomitório – onde os convidados dos banquetes podiam ir despejar os seus estômagos repletos das iguarias mais raras e complicadas, para poder enchê-lo outra vez.

Como consequência, a grosseria e a crueldade das diversões, culminou nos espectáculos sangrentos e repugnantes do circo e nos estúpidos e bárbaros excessos dos tiranos: Calígula, Nero, Vitélio, etc..

Quanto mais decadente a Sociedade, mais prospera a Medicina

A medicina floresceu sempre nas civilizações decadentes. Isto é lógico, porquanto, mais do que da saúde, o médico vive da enfermidade. Assim, a decadente civilização grega providenciou médicos a Roma.

 

Catão – o Censor

Durante muito tempo foi este o mais desprezado dos ofícios e Catão – o Censor – numa reacção contra o princípio da decadência romana, expulsou os advogados e os médicos. São originais as razões que deu:

“...enquanto não houve advogados, as pessoas esforçavam-se por remediar amigavelmente os seus pleitos, e estes nunca chegaram a ser tão graves e numerosos como desde que entregaram aos advogados os cuidados dos seus assuntos.

Assim, também enquanto não houve médicos, as pessoas cuidavam mais da sua saúde; quando as pessoas crêem que o médico pode salvá-las de sofrer a natural consequência dos seus excessos, esquecem-se da prática da virtude e multiplicam-se as enfermidades e os médicos, os quais, além disso, se tornam ricos e poderosos...”.

Expulsou os primeiros por os considerar “inimigos dos bons costumes e da harmonia entre vizinhos”; no caso dos segundos, por os considerar “inimigos da saúde”.

Cláudio Musa e as Operações Sangrentas

Durante quatro séculos Roma esteve sem médicos; a medicina era exercida por escravos. O mais célebre foi Cláudio Musa, a quem erigiram uma estátua por ter salvo a vida a César Augusto, curando-o por meio de uns banhos, de uma enfermidade que padecia. Mais tarde, foi linchado pelo próprio povo romano quando lhe ocorreu realizar operações sangrentas.

 

 

GRÉCIA

 

Hipócrates

O médico mais célebre da antiguidade foi Hipócrates, a quem se atribui a honra de ser “O Pai da Medicina”. Hipócrates (460 - 375 a. C.) nasceu na ilha de Cós. Era de uma antiga família de médicos – os Asclepíades, – e pretendia descender de Esculápio – o Deus grego da medicina.

Alguns dos famosos Aforismos de Hipócrates:

“...Certos médicos antigos não ignoravam as diversas categorias de enfermidades e a multiplicidade das suas divisões, mas observamos que se perderam quando pretenderam fazer uma classificação muito detalhada. Com efeito o que é importante não é tanto o dar-lhes um nome e separar cada enfermidade, por pouco que difira das demais, mas representá-las como continuando sendo essencialmente as mesmas, ainda que levem um nome diferente...”;

“...A natureza das enfermidades é a mesma; se se apresentam com tanta diversidade é apenas pela causa da diversidade das partes em que o mal se manifesta. Com efeito a sua essência é uma e a causa que as produz é igualmente uma...”;

“...Mas em que consiste esta causa única?  - Quando se produz uma alteração nos nossos humores, aumenta o calor do corpo, ocorrem em certas partes depósitos destes humores, excita-se a sensibilidade às dores e produzem-se grandes calores. O «fogo», aceso em todo o corpo, produz a febre...”;

“...Quando os humores viciados são abundantes, e arrastam e põem em estado enfermiço tudo o que estava são, toda a substância do corpo se encontra atacada e desorganizada; quando um humor se corrompe, e se estende a outra parte, leva até lá a enfermidade, a menos que seja purgado dela...”;

 “...As enfermidades são crises de purificação humoral, de limpeza orgânica e de eliminação tóxica. Todas as enfermidades se curam por alguma evacuação, quer pela boca, pelo ânus, pela bexiga ou por um outro emunctório. O órgão do suor (a pele) é um dos principais e comum a todos os males...”

“...Os sintomas são defesas naturais. Quantas vezes aparecem sintomas que parecem enfermidades e não são mais que remédios das mesmas...”;

”...Há duas classes de febres: uma ataca a maior parte dos homens ao mesmo tempo – são as epidemias. Quando o ar se encontra infestado de miasmas, que são inimigos da natureza humana, uns homens caem enfermos, enquanto outros atacam os que cometem erros no regime e na maneira de viver...”;

“...O mau regime consiste em que se dê ao corpo mais alimento do que pode suportar, seja sólido ou líquido, sem fazer um exercício que opere a combustão proporcionada pela excessiva abundância de comida, ou bem porque se usam manjares muito variados e diferentes na mesma refeição, que produzem a guerra no corpo por estar um digerido enquanto outro não o é ainda...”;

“...Que o teu alimento seja a tua única medicina; que a tua única medicina seja o teu alimento!...”;

“...Há na economia um só fim, um só esforço, no qual participa todo o corpo. É uma simpatia universal: tudo é subordinado a todo o corpo; tudo o é também a cada parte. É a Natura Medicatrix, que protege, imuniza e cura...”;

“...No interior do corpo existe um agente desconhecido que trabalha pelo todo e pelas partes. É ao mesmo tempo uno e múltiplo. É a natureza a que cura as enfermidades e encontra as vias necessárias sem necessidade de ser guiada pela nossa inteligência: não se ensina a abrir e a fechar os olhos, a mover a língua e a maioria dos actos essenciais da vida. Sem o socorro de nenhum mestre, a natureza é suficiente em tudo, e  para tudo...”

Não devemos endeusar Hipócrates, é um facto, mas também é verdade que descendia dos Asclepíades e que estudou na escola de Cós, considerada a melhor do seu tempo, cujos conhecimentos resumiu.

Na prática, Hipócrates empregou um eclectismo terapêutico, por vezes em contradição com os seus aforismos, especialmente com o famoso:

“...Que o teu alimento seja a tua única medicina; que a tua única medicina seja o teu alimento...”.

 

Pitágoras

Pitágoras (582-500a.C.) nasceu em Samos. Terá sido ele, com toda a certeza, um dos maiores inspiradores de Hipócrates. Fundou uma escola de iniciação da juventude, baseada em rígidos princípios morais. Entre outras grandes descobertas atribuídas a este grande matemático, encontra-se a tábua de multiplicar. Ainda que nenhum escrito dele se tenha conservado, um discípulo – Lícis – sintetizou os seus ensinamentos nos famosos “Versos Áureos”.

Pitágoras não foi propriamente um «médico», mas sim um verdadeiro instrutor naturista, dentro do significado integral que damos a esta palavra. Ele considerava a sabedoria o objecto integral da cultura – o único susceptível de promover a saúde perfeita e a plena expansão da personalidade humana – sobre a qual assentará sempre o verdadeiro progresso das sociedades humanas.

Os Versos Áureos de Pitágoras:

1.       Honra em primeiro lugar os deuses imortais, como manda a lei.

2.       A seguir, reverencia o juramento que fizeste.

3.       Depois os heróis ilustres, cheios de bondade e luz.

4.       Homenageia, então, os espíritos terrestres e manifesta por eles o devido respeito.

5.       Honra em seguida a teus pais, e a todos os membros da tua família.

6.       Entre os outros, escolhe como amigo o mais sábio e virtuoso.

7.       Aproveita os seus discursos suaves, e aprende com os actos dele que são úteis e virtuosos.

8.       Mas não afastes teu amigo por um pequeno erro.

9.       Porque o poder é limitado pela necessidade.

10.        Leva bem a sério o seguinte: Deves enfrentar e vencer as paixões.

11.        Primeiro a gula, depois a preguiça, a luxúria, e a raiva.

12.        Não faças junto com outros, nem sozinho, o que te dá vergonha.

13.        E, sobretudo, respeita-te a ti mesmo.

14.        Pratica a justiça com os teus actos e com as tuas palavras.

15.        E estabelece o hábito de nunca agir impensadamente.

16.        Mas lembra-te sempre de um facto, o de que a morte virá a todos.

17.        E que as coisas boas do mundo são incertas, e assim como podem ser conquistadas, podem ser perdidas.

18.        Suporta com paciência e sem murmúrio a tua parte, seja qual for.

19.        Dos sofrimentos que o destino, determinado pelos deuses, lança sobre os seres humanos.

20.        Mas esforça-te por aliviar a tua dor no que for possível.

21.        E lembra-te que o destino não manda muitas desgraças aos bons.

22.        O que as pessoas pensam e dizem varia muito; agora é algo bom, em seguida é algo mau.

23.        Portanto, não aceites cegamente o que ouves, nem o rejeites de modo precipitado.

24.        Mas se forem ditas falsidades, retrocede suavemente e arma-te de paciência.

25.        Cumpre fielmente, em todas as ocasiões, o que te digo agora.

26.        Não deixes que ninguém, com palavras ou actos,

27.        Te leve a fazer ou a dizer o que não é melhor para ti.

28.        Pensa e delibera antes de agir, para que não cometas acções tolas.

29.        Porque é próprio de um homem miserável agir e falar impensadamente.

30.        Mas faz aquilo que não te traga aflições mais tarde, e que não te cause arrependimento.

31.        Não faças nada que sejas incapaz de entender.

32.        Porém, aprende o que for necessário saber; deste modo, a tua vida será feliz.

33.        Não esqueças de modo algum a saúde do corpo.

34.        Mas dá a ele alimentos com moderação, exercício necessário e também repouso à tua mente.

35.        O que quero dizer com a palavra moderação é que os extremos devem ser evitados.

36.        Acostuma-te a uma vida decente e pura, sem luxúria.

37.        Evita todas as coisas que possam causar inveja.

38.        E não cometas exageros. Vive como alguém que sabe o que é honrado e decente.

39.        Não ajas movido pela cobiça ou avareza. É excelente usar a justa medida em todas estas coisas.

40.        Faz apenas as coisas que não te possam ferir, e decide antes de as fazer.

41.        Ao te deitares, nunca deixe que o sono se aproxime dos teus olhos cansados,

42.        Enquanto não revisares com a tua consciência mais elevada todas as tuas acções do dia.

43.        Pergunta: "Em que errei? Em que agi correctamente? Que dever deixei de cumprir?"

44.        Recrimina-te pelos teus erros; alegra-te pelos acertos.

45.        Pratica integralmente todas estas recomendações. Medita bem nelas. Deves amá-las de todo o coração.

46.        São elas que te colocarão no caminho da Virtude Divina.

47.        Eu o juro por aquele que transmitiu às nossas almas o Quaternário Sagrado.

48.        Aquela fonte da natureza cuja evolução é eterna.

49.        Nunca começa uma tarefa antes de pedir a bênção e a ajuda dos Deuses.

50.        Quando fizeres de tudo isso um hábito,

51.        Conhecerás a natureza dos deuses imortais e dos homens,

52.        Verás até que ponto vai a diversidade entre os seres, e aquilo que os contém, e os mantém em unidade.

53.        Verás então, de acordo com a Justiça, que a substância do Universo é a mesma em todas as coisas.

54.        Deste modo não desejarás o que não deves desejar, e nada neste mundo será desconhecido de ti.

55.        Perceberás também que os homens lançam sobre si mesmos as suas próprias desgraças, voluntariamente e por sua livre escolha.

56.        Como são infelizes! Não vêem, nem compreendem que o bem deles está ao seu lado.

57.        Poucos sabem como libertar-se dos seus sofrimentos.

58.        Este é o peso do destino que cega a humanidade.

59.        Os seres humanos andam em círculos, para lá e para cá, com sofrimentos intermináveis

60.        Porque são acompanhados por uma companheira sombria, a desunião fatal entre eles, que os lança para cima e para baixo sem que percebam.

61.        Trata, discretamente, de nunca despertar desarmonia, mas foge dela!

62.        Oh! Deus nosso Pai, livra a todos eles de sofrimentos tão grandes.

63.        Mostrando a cada um o Espírito que é seu guia.

64.        Porém, não deves ter medo, porque os homens pertencem a uma raça divina.

65.        E a natureza sagrada tudo revelará e mostrará a eles.

66.        Se ela te comunicar os teus segredos, colocarás em prática com facilidade todas as coisas que te recomendo.

67.        E ao curar a tua alma libertá-la-às de todos estes males e sofrimentos.

68.        Mas evita as comidas pouco recomendáveis para a purificação e a libertação da alma.

69.        Avalia bem todas as coisas,

70.        Buscando sempre guiar-te pela compreensão divina que tudo deveria orientar.

71.        Assim, quando abandonares o teu corpo físico e te elevares no éter.

72.        Serás imortal e divino, terás a plenitude e não mais morrerás.

 

Empédocles

Por autores acreditados foi já posta em questão a autoria da “Teoria das quatro faculdades”, correspondentes aos quatro elementos da matéria, a qual, em vez de ser de Hipócrates, como em geral se supõe, poderá ser de Empédocles.

Mas, voltando ao nosso tema chave, nada se prestou tanto ao ridículo como a medicina.

 

Heraclito

Heraclito era também médico, e afirmava que “ninguém é mais louco que os gramáticos, a não ser os médicos”.

 

Demócrito

Demócrito foi um grande químico, a quem se deve a autoria de teorias sobre transmutação de metais, e sobre a composição atómica da matéria. Ele criticou – em sintonia com os empíricos – as teorias médicas oficiais daquele tempo, declarando que “não se devia aceitar como regra de conduta mais do que o resultado dos factos observados”.

 

Heródicus

Heródicus foi o inventor da ginástica médica, como meio de conservar e devolver a saúde.

 

Hicus

Hicus era médico e atleta. Permaneceu solteiro, para conservar as suas forças e ganhar os prémios nos torneios. A sua sobriedade era tão proverbial que se recomendavam aos barrigudos daquele tempo os Menus de Hicus.

 

Eracístrates

Eracístrates dizia: “para curar os órgãos é necessário conhecê-los” e fundou a anatomia patológica.

 

Hierófiles

Hierófiles criou muitos termos de anatomia, os quais, como bem disse Raspail, “poucos frutos deram à medicina, já que a necroscopia de então, como hoje, só conseguiu surpreender pelos efeitos, ficando sempre fora do seu alcance a causa real da enfermidade, a qual continuaram considerando emanada da fleuma, da bílis, do frio, do quente, do seco e do húmido”.

Eracístrates e Hierófiles separaram a cirurgia da medicina (isto, dois séculos antes de Cristo!) e introduziram a farmácia como novo ramo de comércio na arte de curar. A medicina propriamente dita, de facto, chamava-se dietética – o que mostra o valor que se dava todavia ao regime.

 

Pródicus

Pródicus, afastou-se destas teorias, pela convicção de que “a saúde depende do atletismo e do estímulo da pele, por meio de fricções e bálsamos”.

 

Catão... a que também já nos referimos, escrevia ao seu filho, em viagem à Grécia:

“...Dir-te-ei o que deves trazer de Atenas: a sua literatura é digna de ser conhecida, mas com cautela, pois quando nos tenha inspirado os seus gostos, terá conseguido corromper-nos; porque razão a Grécia nos manda os seus médicos? Estes hão jurado matar todos os bárbaros com as suas receitas – e para isso existe um salário, a fim de que o enfermo perca mais depressa a fé nos tratamentos! Proíbo-te, pois, os médicos. Estes entraram em Roma, apesar dos romanos os desprezarem, por ser a medicina uma arte de escravos...”.

 

Plínio

Plínio, o grande historiador, dizia:

“...o médico é o único em quem cremos mais nas suas palavras que em seus actos; assim se crê porque se lhe chama «médico». Sem dúvida, não há arte onde a impostura tenha mais perigosas consequências. Não temos nenhuma lei eficaz para castigar a sua ignorância, que mata, que se instrui à conta da nossa saúde, que experimenta matando. Só há no mundo um nome que pode matar impunemente – é o médico!...”.

E acrescentava:

“...nenhuma profissão há envenenado mais pessoas, caçado mais heranças, levado o adultério até ao palácio dos Césares. Refiro-me às suas avaras exigências, às condições que impõe até à agonia, às suas prendas, que pedem contra a morte, aos seus remédios secretos, que tão caro vendem ao enfermo, a essa dessa teriaca (teriaca ou triaca - famoso medicamento antigo, que chegou a incorporar setenta componentes, e se prescrevia como antídoto de envenenamentos), composta para o luxo – esse antídoto de Mitrídates, composto de cinquenta e quatro drogas, onde cada uma entra em proporção diferente. É para vender mais caro que fazem tanta ostentação de uma ciência prodigiosa, da qual ignoram, com frequência, os rudimentos mais básicos. Foi por isso que Catão repudiou essa ciência insidiosa, na qual o médico honrado encobre os charlatães, tratando, pela sua determinação, combater as alucinações dos espíritos dos enfermos, que pensam que uma droga é tão mais saudável quanto mais cara custa...”.

Na sua “História Natural”- volume 24 – escreveu:

“...a natureza não criou mais do que remédios vulgares, baratos e fáceis de obter, geralmente entre os nossos próprios alimentos; foram a fraude e o charlatanismo quem inventou essas «oficinas» onde se promete ao enfermo devolver-lhe a vida a preço de ouro; é aí que se recomendam misturas misteriosas vindas da Arábia e da Índia, como se só o mar vermelho pudesse produzir remédios para o mais insignificante abcesso, enquanto os pobres encontram o seu remédio na sua própria alimentação...”.

E mais:

“...a medicina tornar-se-ia a mais vil das arte se fosse tomado, no próprio jardim, a erva ou alimento que servisse de específico; a verdade é que a grandeza romana perdeu a sua severidade; os vencedores foram domados pelos vencidos; o romano obedece aos bárbaros, e há uma arte que exerce o seu império sobre os próprios imperadores...”.

É evidente que, entre os próprios médicos, houve os que reagiram contra os vícios da medicina.

Asclepíades, o romano, cem anos antes de Cristo, reclamava contra os purgantes e os vomitivos, recomendando apenas remédios simples, suaves e naturais. Preconizava passeios a pé ou em carroça, fricções e vinho de uva, banhos frios contra a enterite, água salgada contra a icterícia, etc..

 

Metódicos

A seita dos metódicos afirmava:

“...Os remédios simples são melhores do que os remédios em voga. Se a medicina fosse exercida por homens rústicos e menos eruditos que nós, formados na escola da natureza, mais do que na filosofia, as nossas enfermidades seriam menos graves, os nossos remédios mais simples e fáceis, mas nós saímos desta via natural, pondo todo o nosso orgulho numa certa eloquência e uma grande facilidade para dissertar e escrever...” (Teodóricus Pristiamos).

 

Ressurge o Naturismo

Como consequência dos fracassos da medicina, e da desconfiança do povo, o naturismo começou a entrar em voga.

Surgiu a seita dos Eclécticos, que pretendiam retirar o bom do dogmatismo como do empirismo, sendo o Eclectismo a tendência filosófica formada de princípios ou teses colhidos em diversos sistemas, com o fim de sintetizar o que de melhor cada um pode oferecer.

Isto permite formar métodos, pela conciliação de partes originárias de diversas escolas, desprezando-se tudo o que não for conciliável com o novo “sistema” assim criado, e acrescentando-se infinitamente a ele tudo o que satisfaça os princípios da coerência estabelecidos.

A história repete-se, e nem sequer faltaram então os espiritualistas que, com Gricípe, tentavam unir o positivismo de Hipócrates ao espiritualismo de Platão.

 

Celso

Aulo Cornélio Celso (século I) viveu no tempo de Augusto e foi autor do célebre livro De Arte Médica ou De Re Médica, possivelmente tradução de textos gregos. Foi seguidor das teorias de Hipócrates e foi cognominado o Cícero da Medicina, devido à qualidade e pureza do seu estilo. Classificou as doenças que podem ser tratadas por dietas e regimes e aquelas que requerem tratamento cirúrgico ou farmacológico. Ele foi sem dúvida o mais sério dos médicos escritores de Roma. Entre as suas célebres afirmações, dizia:

“...o bom médico não deve abandonar o seu enfermo, mas isso não o podem fazer os que exercem sem outra razão do que a de ganhar dinheiro...”.

Em sintonia com Hipócrates, afirmava:

“..a melhor medicina é a alimentação dada oportunamente...”.

Apesar do desprezo dos romanos e das acusações que lhes faziam – de matar, mais do que curar – os médicos multiplicaram-se e fizeram-se ricos e poderosos. Isto foi então, como o é hoje, uma lógica consequência da ignorância geral da arte de bem viver – a única que evitaria a enfermidade e faria inútil o médico.

Recordamos a este respeito o diálogo de um príncipe do oriente com um célebre médico árabe que se instalou no seu país, e que ficou muito surpreendido por os médicos serem raros. Perguntando-lhe o sábio como vivia o seu povo, o príncipe respondeu:

“...levam uma vida muito modesta, dedicando-se quase todos às tarefas mais simples e rudes do cultivo da terra; comem o que eles próprios produzem, e só quando têm fome...”. “... Não têm, por outro lado, vícios...” - completou o príncipe.

“Neste caso –  disse o médico: “– não me necessitam, e nada tenho a fazer aqui”.

 

Galeno

No ano 170, Galeno de Pérgamo pretendeu reabilitar Hipócrates, mas à luz das suas próprias convicções. Mais instruído que este em anatomia e fisiologia, retirou ao hipocratismo o seu significado naturista. Galeno foi o verdadeiro «pai» da medicina alopática farmacológica.

O famoso lema contrarie, contrarie curantur, se fosse apreciado de acordo com o critério naturista hipocrático, poderia traduzir-se no seguinte conselho:

“se queres curar-te, faz o contrário do que existe para adoeceres”.

Este conselho referir-se-ia então à conduta, onde reside indiscutivelmente a causa principal do mal. Mas o galenismo, pelo contrário, traduz o célebre aforismo, com o lema:

“para curar, apliquemos o remédio que produz efeitos contrários à enfermidade”.

 

 

IDEALISTAS

 

Vitalismo

O vitalismo é a teoria que atribui uma propriedade específica aos fenómenos da vida, distinguindo-os radicalmente dos fenómenos físicos e químicos.

O vitalismo postula igualmente a existência de uma força vital imanente aos seres vivos e irredutível às propriedades da matéria inorgânica.

Sob o ponto de vista epistemológico, o vitalismo recusa-se a explicar os processos biológicos e psicológicos pelos conceitos e leis da física ou da química; a autodeterminação dos organismos não seria de natureza causal, devendo antes ser atribuída a um princípio teleológico supramaterial.

A origem filosófica do vitalismo reside no hilozoísmo e no finalismo da Antiguidade. Em seguida, a tese vitalista liga-se com a medicina do Renascimento que, sob a influência dos alquimistas e dos astrólogos, tendia a associar os princípios da harmonia biológica aos princípios de uma harmonia cosmológica, sendo a síntese entre a matéria e o pensamento assegurada por um princípio vital de natureza metafísica.

Leibniz atribuía uma actividade “...dinâmica, agente e contínua...” à matéria; Novalis e Schelling (Séc. XIX) sustinham que “...a natureza é governada por um princípio vital acessível apenas à intuição, estética ou mística...”. A evolução destas teses conduz à concepção dinamista, em resoluta oposição ao mecanicismo de Descartes.

A ideologia materialista encostou-se ao mecanicismo e fez esquecer o vitalismo. Mas os actuais conceitos de “consciência celular”, não são mecanicistas, e sim vitalistas.

O vitalismo, como princípio, foi conservado por muito tempo, até à antiga escola de medicina de Montpellier, mas como consequência lógica do lema alopático acabou também por ser desvalorizado.

A maior desgraça do homem é o seu espírito gregário. O homem corrente teme todas as coisas, até mesmo o uso do seu cérebro, para pensar livremente, e prefere seguir os que pensam por ele. É este o perigo da Ciência!. Quem não pensa não pode compreender e só está capacitado para crer, mas não para criar. Só o pensamento cria e como a vida é uma contínua recriação, só realmente vivem e se auto–realizam os pensadores e os empreendedores. Nesta condição explica-se o deslumbramento e a admiração dos povos pelos seus heróis, admiração que predispõe às multidões a aceitar, sem as discutir, teorias, leis e costumes que as escravizam, as embrutecem e as anulam. A fama e a moda são consequência desta falta de individualidade na maioria das pessoas. Por isso é que as teorias, aceites como dogmas num momento, decaem para voltar mais tarde, tal como as modas. Isto não quer dizer que os homens famosos não tenham muitas coisas boas, mas sim que o espírito humano deve estar sempre alerta e livre, para poder discernir, aceitando ou rechaçando, de forma a não ser nunca um seguidor cego de teorias nem de homens.

 

Rases e Avicena

A fama de Galeno passou de Roma à Arábia, onde se traduziram as suas obras. Rases e Avicena, os mais célebres médicos árabes, inspiraram-se nas teorias hipocráticas, de acordo com a interpretação galénica, e os professores das faculdades do ocidente adoptaram durante séculos a medicina árabe.

Rases ou Rhazes, ou Al-Razi, cujo nome completo era Abu Bakr Muhammed ibn Zakariya al-Razi (864-930) nasceu em Rages, Pérsia, e notabilizou-se como médico, alquimista e filósofo, sendo um dos melhores da sua época. Utilizava uma grande quantidade de aparelhos e equipamentos alquímicos, e ensaiou a aplicação da arte hermética na medicina. O seu trabalho mais importante é o Sirr al-Asrar ou Kitab al-Asrar. AL Razi ficou conhecido na Europa como Rases ou Rhazes, o que resultou da latinização do seu nome.

Avicena, cujo nome era Abu Ali al-Husayn ibn Abd Allah ibn Sina (980-1037), foi médico, filósofo, alquimista, astrólogo, mestre e cortesão. Viveu muito tempo na Pérsia, onde praticou a alquimia e a astrologia, devendo-se a ele os primeiros e melhores tratados sobre alquimia conhecidos na Europa em traduções latinas.

Obras: Qanum fit-Tibb (Cânone da Medicina); An-Najat (A Salvação); Kitab al’isarat wat-tanbihat (Livro dos Teoremas e dos Avisos); Mantiq almasriquyin (Lógica) e os Risalas, opúsculos sobre o Corão, a magia, os sonhos e os talismãs.  As traduções latinas de suas obras alquímicas compreendem Anima in Arte Alchimia; Tractatus Alchimiae e Avicennae de Congelatione et Conglutionatione Lapidum (esta editada em inglês com notas e crítica de E. J. Holmyard e D. C. Mandeville (P. Gauthner, Paris, 1927). M. Cruz Hernandez seleccionou, comentou e transpôs para o espanhol textos deste filósofo em Sobre Metafísica (1950).

Avicena foi um dos sábios mais notáveis do Oriente; deve-se a ele a classificação das ciências, usada posteriormente nas escolas medievais europeias e seu Qanum fit-Tibb adquiriu celebridade sendo diversas vezes traduzido para o latim. Como continuador da tradição aristotélica de seu mestre Alfarabi, na sua doutrina filosófica encontram-se muitos elementos neoplatónicos.

 

Organicismo e Opoterapia

Durante toda a Idade Média a medicina alastrou-se por toda a Europa em condições inconcebíveis. Ainda que, pelo menos em teoria, sempre tenha havido um certo eclectismo, o que na prática triunfava era o organicismo.

Messier – o antigo –, chamado o evangelista dos médicos, na sua obra Colecta Arti Medici recomendava, entre outros medicamentos, os tão delicados como testículos de raposa ou de carneiro de padreação, secos e misturados com mel e gema de ovo, como afrodisíacos; aos anémicos recomendava sangue e pó de carne; miolos e medula contra e epilepsia.

Avicena recomendava mamilos de ovelha e de cabra como galactógenos (o m. q. galactogogo – agente que aumenta a secreção de leite).

Alberto Magno – célebre monge dominicano que pertenceu à escola de medicina de Paris, em 1250 – recomendava testículos de porco aos homens “humilhados”, e para que a mulher pudesse conceber, dava-lhe útero de lebre. Esses sábios tornaram-se precursores de Brown-Séquard.

Charles Édouard Brown-Séquard (1817-94) foi o médico e fisiologista francês que investigou acerca do prolongamento da vida recorrendo a extractos glandulares.

As obras de grandes médicos e farmacêuticos da Idade Média são uma sucessão de relatos imundos e extravagantes – todos os bichos conhecidos, seus tecidos, secreções e dejecções dissecadas, reduzidas a pó ou em pílulas e bebidos encheram as boticas durante esses tenebrosos séculos.

Juan de Rénue, médico de Henrique IV, na sua obra  Animais e suas Partes, que o farmacêutico deve ter na sua Botica”, dá-nos uma «saborosa» descrição a este respeito. Depois de descrever as virtudes de toda a classe de insectos, cantáridas, cochinilhas, vermículos, lagartos, formigas, víboras, escorpiões, rãs, caranguejos e sanguessugas, atribui também aos órgãos genitais, ao coração, pulmões, rins e bexiga, dos animais e do homem, grandes poderes curativos. A gordura do homem e dos mamíferos, o sangue de cada animal, cada classe de leite, os chifres, as unhas, as conchas das ostras e até as pérolas do seu interior, reduzidas a pó, tinham cada um as suas virtudes para determinados males. Diz Rénue: “...apresentam virtudes especiais, e não será demais que o farmacêutico os tenha na sua botica, particularmente os de cabra, de cão, cegonha, pavão real, pombo, gato de angora e os pelos de vários animais...”.

A grande maioria dos grandes farmacêuticos e médicos do século XVIII, fizeram receituários da mesma natureza. Entre outras drogas famosas, recordamos o album graecum (designado popularmente por “alva de cão”), que não era mais que excremento de cão (seco), ao qual atribuía a virtude de secar as verrugas, fazer desaparecer os tumores, acalmar a desinteria, resolver os edemas e dar excelentes resultados na tuberculose, pelo oxalato de cal que contém.

Ambroise Paré (1510-90) era francês e foi um dos mais famosos cirurgiões da Europa da sua época.  O seu sucesso como cirurgião militar granjeou-lhe o posto de cirurgião real de Henrique II, e dos seus sucessores: Francisco II, Carlos IX, e Henrique III.

O próprio Ambroise Paré  tinha fé nessa classe de remédios, como o demonstra a sua descrição de um bálsamo chamado Óleo de cachorrinhos, composto com óleo de lírios e cãozinhos recém nascidos, que se faziam ferver juntos, juntando-se-lhe lombrigas preparadas com terebintina de Veneza. Este bálsamo era excelente – dizia – contra feridas de arma de fogo. Não pretendemos entrar em detalhes, até porque são demasiado repugnantes, mas remetemos os interessados nesta pesquisa para o tema “opoterapia”.

 

Opoterapia

Trata-se de um método terapêutico com alguns pontos em comum à organoterapia. Utiliza os sucos e extractos de diferentes órgãos, assim como das suas mais diversas substâncias, incluindo a próprias estrutura do órgão – mais recentemente glândulas endócrinas liofilizadas.

Na actualidade, o que já era mau passou a pior: utilizam-se hormonas sintéticas, que têm a agravante de uma maior toxicidade, pela presença dos princípios degenerativos inerentes aos produtos que pretendem “enganar a natureza”, isto é, tudo o que é sintético.

Sem dúvida, houve também médicos que conservaram fielmente os grandes princípios hipocráticos, mais ou menos como uma tradição, e deles nos ocuparemos mais tarde.

 

REVOLUÇÃO MÉDICA

 

Paracelso

Theophrastus Bombast Von Hohenheim (1493-1541). Philippus, Aureolus e Paracelso, terão sido nomes por ele acrescentados. O nome “Paracelso”, significa literalmente “para além de Celso”, e supõe-se ter sido este o auto-juízo que ele fazia de si próprio: considerava-se superior a todos os médicos, até do famoso médico grego Celso. Paracelso foi médico, filósofo hermético, rosacruz e alquimista. Estudou na Universidade de Basileia, após o que viajou durante 20 anos por toda a Europa, Rússia e Ásia. Estudou hermetismo e foi aluno de alquimistas tão célebres como Basile Valentin e também dos sábios islâmicos de Constantinopla.

Paracelso atacou com violência os sistemas médicos convencionais e preconizou a experimentação. Mereceu boa reputação como médico, mas o seu temperamento colérico trouxe-lhe também muitos inimigos.

Ocupou, no século XVI, um lugar de destaque entre os reformadores da medicina oficial. Este espírito revolucionário criticou magistralmente as teorias de Galeno, cujo absurdo fez ressaltar.

Mas depois de as ter deitado por terra, que pôs ele no seu lugar?  Em lugar da Teoria dos Quatro Humores, inventou a Teoria das Cinco Causas.

Apesar da pouca clareza destas teorias, Paracelso esteve no auge da boa fama durante um certo tempo, especialmente na Europa Central. Mas foi, certamente, mais pelo valor da sua prática do que pela teoria.

Fundamentava-se da seguinte forma a sua «Teoria das Cinco Causas» (Entitus Morborum):

“...As cinco entidades que engendram todas as enfermidades -  diremos pois que o nosso corpo é sujeito a cinco entidades; que uma só entidade contém nela todas as enfermidades, e com elas um certo poder sobre o nosso corpo, pois há cinco classes de hidropisias, o mesmo número de icterícias ou enfermidades reais, o mesmo número de febres e outro tanto de classes de cancros. E isto é também verdade para todas as demais enfermidades. A influência dos astros é a «entidade dos astros»; a segunda influência é a «entidade do veneno»; a terceira que debilita o nosso corpo, o mina por uma má complexão, é a «entidade natural»; a quarta é a «entidade dos espíritos sobrenaturais», que têm o poder de violentar o nosso corpo e desgastá-lo; a quinta entidade é «Deus»”.

Temos lido em escritos de naturistas a apologia de Paracelso. Na verdade, ainda que fosse um revolucionário dentro da medicina, não tinha nada de naturista: foi Paracelso quem pôs em uso os remédios químicos, sobretudo o mercúrio e o arsénico, com os quais, como disse Raspail:

“...obteve curas que se consideraram maravilhosas, mas não se teve em conta as recidivas; era vago na explicação da teoria da sua acção, mas atrevido e preciso na sua aplicação; curava assim rapidamente, ou matava logo, o que fez que se falasse muito das suas curas e muito pouco dos seus fracassos; o curado tornava-se seu apóstolo, enquanto ao morto um pouco de terra apagava o acidente; tudo estava assim pelo melhor, para a reputação do mestre...”.

Paracelso foi, por outro lado, bom cirurgião, e os seus bálsamos e linimentos faziam maravilhas nos feridos, segundo se assegura.

 

Van Helmont

Jean Baptiste Van Helmont (Bruxelas, 1577 – Vilvorde, Bélgica, 1644), de origem nobre, foi médico, químico, fisiologista, filósofo, místico, alquimista e rosacruz. Estudou em Louvain, experimentou vários ramos da ciência, e  regressou à medicina, doutorando-se em 1599. Viajou pela Suíça, França, Itália e Inglaterra. Em 1605, durante o período da grande epidemia, encontrava-se em Antuérpia. Estabeleceu-se em Vilvorde em 1609, defendeu a química paracelsiana e dedicou-se a experiências químicas, à prática médica e à busca da pedra filosofal.

Van Helmont foi outro médico revolucionário, e nas suas críticas à medicina dizia:

“Desde Hipócrates até nós a medicina não deu um só passo; Galeno implementou-lhe, inclusivé, um impulso retrógrado, fazendo-a girar num círculo vicioso. Desde que a medicina se inclinou ao lucro, o médico ficou atado como um escravo ao cais.”

 Van Helmont prossegue:

“Li duas vezes os escritos de Galeno com a maior atenção, e convenci-me da sua pobreza e da sua ignorância, só comparáveis à sua audácia; o único de bom em Galeno é o que copia a Hipócrates e a Platão.”

Van Helmont teve a intuição da importância da auto-sugestão, até na peste, cujo Archeu dizia:

“...está sobretudo na imaginação do enfermo...”.

Insinuou também que:

“...as enfermidades podem ser determinadas por seres animados e microscópicos ou parasitas...”.

Mesmo sendo místico, não deixou de se interessar pelos avanços da ciência e conhecia as obras de Harvey, Galileu e Bacon. Não aceitou cargos reais, vivendo sempre recluso e conquanto professasse o catolicismo, o seu tratado De Magnetica Vulnerum Curatione trouxe-lhe a suspeita de heresia, sendo preso em 1634.

 

A Homeopatia

Em finais do século XVII apareceu Christian Friedrich Samuel Hahnemann, que foi sem dúvida um dos maiores adversários da medicina galénica. Partiu da observação de que a quina, por exemplo, produzia uma febre parecida à que se curava com ela.

Hahnemann estudou muitas outras substâncias medicamentosas activas e viu que todas elas produziam, no homem são, sintomas parecidos aos que curava nos enfermos. Também observou que alguns princípios, mais ou menos inertes em forma global (ponderal), se subdividiam e adquiriam maior actividade uma vez esmagados no almofariz ou diluídos em atenuações líquidas. Isto é, que a desagregação molecular de uma substância aumenta a sua potência medicamentosa em alto grau. Quis-se explicar este poder por um estímulo sobre a força vital, à que os homeopatas atribuem, como os naturistas, o papel principal na cura. Por isso dizem que foi Hipócrates o «pai da Homeopatia», cujo lema, oposto ao da alopatia é o «similia similibus curantur».

As descobertas sobre a radioactividade deram-lhes um argumento para explicar o poder medicamentoso das drogas em alto grau de diluição, e têm, sem dúvida alguma, mais razão do que os alopatas, ainda que, segundo a escola naturopática, “a prática exclusiva da homeopatia sem o suporte de um regime curativo adequado constitui uma desvirtuação do espírito hipocrático naturista.”

Existe certa incompatibilidade entre a escola homeopática e a escola naturopática, quando se ocupam dos aspectos filosóficos na forma mais pura. E esta intolerância é mais marcante da parte da escola naturopática. Segundo afirma esta escola: “...quem se intitula “Homeopata/Naturopata”, e faz uso cabal de todos os medicamentos que a farmacopeia homeopática lhe disponibiliza, não compreendeu os preceitos fundamentais mais básicos da medicina natural, porque a potencialização da energia de uma planta inócua, poderá não ser de todo condenável, mas fazer a apologia do veneno, ainda que dinamizado até à indetecção, é coisa mais grave e de difícil concordância”; “...algumas substâncias homeopáticas, como o acónito, o arsénico, a beladona, o mercúrio, o ópio, e outros do mesmo estilo, nunca serão recomendadas por um naturopata puro, havendo uma certa contradição, em termos de lógica, entre a afirmação do seu extraordinário poder curativo e a sua inocuidade, como tóxicos que são; por outro lado, vemos também entre os medicamentos homeopáticos produtos vegetais indubitavelmente inócuos.”

O facto é que não faltam argumentos homeopáticos absolutamente lógicos e também de fácil compreensão. E a verdade é que estes medicamentos dão desconcertantes e irrefutáveis provas de eficácia, que o observador de boa fé e o livre pensador testemunharão facilmente, mas que uma mente carregada de ideias pré concebidas não terá capacidade para compreender.

Em suma, tanto a homeopatia como a naturopatia não carecem de meios eficazes para aliviar dores, atenuar sintomas molestos, e levar organismos vivos à recuperação do seu equilíbrio biológico. E isto com a vantagem de utilizarem processos que não apresentam qualquer perigo, quando aplicados com elementar prudência: hidroterapia, helioterapia, ginástica, jejum terapêutico, dietas diversas, e eventualmente, o uso de algumas plantas simples (fitoterapia), uma ou outra dinamização (homeopatia), a sugestão ou influência pessoal e a auto-sugestão consciente (hipnoterapias), etc.. Todas estas técnicas são úteis, em conjunto ou em separado, desde que aplicados com a devida competência.

 

Christian Science

Citaremos como referência as curas mediúnicas, ou as curas pela fé, pela Christian Science (Fundada por Mary Baker Eddy), ou nos Santuários Católicos, as quais, segundo o nosso critério, se relacionam com as curas por auto-sugestão. São efectivamente “curas”, mas só ocorrem quando a capacidade de auto-sugestão é suficientemente intensa.

 

Psicanálise

A Psicanálise da escola freudiana, de que tanto se tem falado nestes últimos anos, atribui uma influência patológica considerável aos complexos psíquicos, especialmente de origem sexual, por desejos contidos, que são susceptíveis de produzir no subconsciente desequilíbrios causadores de múltiplos fenómenos patológicos e que se curam quando se descobrem e se os transmuta inteligentemente. Trataremos isto com maior extensão noutra altura.

 

Electroterapia, Reflexoterapia, Soroterapia, Cura pelas Ondas, Etc..

As demais múltiplas especialidades como a electroterapia, a reflexoterapia, a soroterapia, a cura pelas ondas, independentemente da sua eficácia imediata e dos seus perigos mediatos, são merecedores da crítica fundamental que o naturismo aplica a todos os sistemas de cura que se utilizam essencialmente para combater apenas os efeitos, sem fazer desaparecer as causas profundas dos males.

Insistimos em que a medicina extraviou o seu caminho desde há milhares de anos. Ao não estudar os males nas suas causas reais, tem sido um instrumento de exploração e de engano, quando deveria ser um maravilhoso instrumento de reforma e modificação dos costumes. O médico devia ser o mestre, o higienista, o instrutor e o filósofo. Por não o entender assim, a medicina tem sido até agora a fomentadora da oposição e do descrédito aos espíritos discordantes de todas as épocas. Descrédito aliás bem merecido, pois esta atitude tem sido a causa da perpetuação da ignorância acerca da verdadeira higiene, através de muitos séculos de inumeráveis sofrimentos, que se poderiam ter evitado se tivessem sido seguidas as directivas dos grandes mestres, especialmente de Pitágoras e de Hipócrates, cujos ensinamentos sintetiza o moderno naturismo.

O excesso de todo o mal destrói-se a si mesmo; os excessos de uma falsa orientação acabaram por restaurar a merecida fama a Pitágoras, a Hipócrates, a Celso, a Paracelso, a Van Helmont, a Hahnemann, a Pasteur, etc., mas a enfermidade não foi vencida.

A quimioterapia sucedeu à organoterapia; a microbiologia e a soroterapia tiveram logo o seu auge. Voltou o organicismo em forma de opoterapia. Mas por fim, tanta medicina anti-natural, especialmente na forma de injecções, acabou por semear temor e desconfiança no povo, o qual volta a prestar atenção às antigas teorias naturistas.

A história repete-se. Mas agora, graças à universalização da cultura, é-nos dado esperar  o triunfo definitivo da boa doutrina. Sem dúvida, entendemos que isto será possível somente na medida em que vá desaparecendo o espírito gregário, a que nos referimos anteriormente. Dissemos também que a medicina se tornava rica e poderosa nas épocas de maior decadência; ela seria supérflua num mundo sem vícios. A medicina segue também as flutuações sociais. Quando chegou a uma maior abjecção foi na Idade Média, quando a ignorância e o servilismo chegaram ao seu apogeu. Actualmente é tão abalizada como todos os valores económicos e sociais.

Os médicos trataram de fazer-se poderosos intervindo na política – fazendo espalhar vacinações e monopólios em favor de uma doutrina contrária às demais. Vendo que não é possível combater as doutrinas adversas, como os eclécticos da Grécia, pretendem tomar o bom de onde está, fazendo especialidades de doutrinas baseadas em princípios contraditórios. Isto não os salvará! Tal como em sociologia, é necessária uma mudança fundamental no critério médico. Como já o sentem muitos médicos sinceros e honrados, a missão superior da medicina é educar o povo, de forma a tornar-se prescindível. Num corpo em estado de degeneração pouca coisa boa pode já fazer o médico; pode apenas iludir e confundir o enfermo. O médico deve tornar-se instrutor naturista; ensinar as leis da vida sã; orientar sãos e enfermos no caminho da sabedoria e dar-lhes o exemplo. Assim triunfará e será um factor talvez decisivo na grande revolução dos espíritos, que tanto necessita o mundo. Entretanto é indispensável que toda a pessoa inteligente conheça o critério naturista e se capacite para aplicá-lo na prática em si mesmo, assim como nos seus filhos e em todos os que o procurem para esse fim. As grandes revoluções vieram sempre de baixo. Mas já muitos médicos demonstram a sua simpatia pelo naturismo.

 

LEZAETA

História e Doutrina segundo Lezaeta

Fonte: La Medicina Natural al Alcance de Todos”, de Manuel Lezaeta Acharan, EDICIONES CEDEL. Viladrau (Gerona), Barcelona. Ano de 1985. Quarta edição.

O Naturismo é tão antigo como a Criação, mas só chegou a tomar belicosidade nos nossos dias, para defender a humanidade da ofensiva diabólica da Teoria Microbiana, que atribui aos micróbios a causa das doenças do homem.

(Lezaeta).

A Medicina Natural ou Ciência da Saúde nasceu com o homem e foi praticada pelos sacerdotes egípcios e caldeus. Também a cultivaram os filósofos da Antiguidade.

Hipócrates formulou as regras da verdadeira arte de curar, cuja chave expressa na sua clássica frase “natura medicatrix” ou seja: “a Natureza é a que cura”, foi esquecida pelos profissionais com a sua actuação antinatural que conduz à «medicação» e à mutilação do corpo.

A acção tóxica dos venenos da botica é precisamente o agente que deprime e anula a força curativa natural que possui todo o organismo, chegando a paralisá‑la até impedir toda a reacção salvadora. A mutilação das entranhas também torna impossível restabelecer a normalidade funcional do organismo, o que equivale a dizer a Saúde.

As forças da Natureza já não actuam no corpo que está sob a acção medicamentosa, o que explica que com drogas se suprimam os sintomas, que constituem sempre defesa orgânica.

Fazendo frente às actividades médicas dos filósofos e sacerdotes que actuavam em plena luz, os feiticeiros criaram uma arte diabólica, misteriosa e à sombra. Em vez dos agentes naturais de que se serviam os médicos filósofos, os feiticeiros prescreviam aos seus enfermos substâncias tóxicas, estimulantes ou calmantes que serviam de base a poções de serpentes e de sapos, excrementos e outras imundices que preparavam com mestria e de uma forma que dissimulava a sua repugnante natureza. Estes venenos actuavam acalmando ou excitando os sintomas do desarranjo orgânico, mas deixando de pé a sua casa, que só mudava de manifestações.

Temos assim explicada a origem das duas medicinas que, segundo o Dr. Paul Carton (1875-1947), se disputam na atenção dos enfermos: Medicina Branca ou filosófica e Medicina Negra ou de feiticeiros.

Preparados opoterápicos na base de extractos glandulares, vacinas e soros de culturas de micróbios e humores corrompidos, nada ficam a dever às imundas medicinas dos feiticeiros.

Ultimamente a imprensa deu conta de experiências realizadas por eminências médicas da Europa destinadas a curar o cancro com uma poção de serpente.

Entre nós, o Dr. Frederico Puga Borne, Presidente da Soc. Científica do Chile, recomendou injectar o veneno da aranha Lacrodictus Formidabilis aos leprosos de Páscoa.

Contra esta falsa medicina tinha que vir uma reacção para salvar a humanidade de falsos protectores. Essa reacção está em plena actividade hoje em dia, mas ela não saiu das fileiras dos facultativos, senão do campo dos enfermos.

Enfermos foram Priessnitz, Kneipp, Kuhne, Rikli, Just, Padre Tadeo e também o autor destas linhas.

A comprovação pessoal do fracasso da medicina que pretende restabelecer a Saúde com tóxicos de farmácia, agentes de laboratório e com sangrentas intervenções cirúrgicas, levou estes enfermos rebeldes a procurar o caminho da verdadeira saúde com as próprias luzes da sua razão, ultrapassando os preconceitos, a rotina e o fanatismo médico.

A informação completa sobre a vida, métodos de cura e ensinamentos destes mestres encontrará o leitor na nossa obra (de Lezaeta) A saúde pela natureza.

O êxito obtido pela experiência e à margem do consagrado oficialmente como científico foi, pois, a razão de ser de uma ciência de verdade que a cada dia se prestigia mais com os seus êxitos à cabeceira dos enfermos para os quais a ciência medicamentosa e cirúrgica infrutiferamente tinha esgotado já os seus recursos.

A medicina criada pelos doentes levanta‑se libertadora frente à medicina inventada pelos profissionais, sem mais bases do que teorias acomodatícias, tão absurdas como ridículas.

É natural o antagonismo destes sistemas, porque o interesse do médico e o do enfermo vão por caminhos opostos, já que, de uma maneira geral, o primeiro prospera à custa do segundo.

A medicina universitária é uma profissão de carácter económico, inadequada para satisfazer as necessidades do doente que necessita por si mesmo controlar e defender a sua própria normalidade funcional, que é a saúde integral do seu corpo.

Consciente do inconsistente e ilógico caudal dos seus conhecimentos, e necessitando impor uma autoridade e prestígio sem base real, a medicina facultativa organizou‑se em associações ferreamente disciplinadas, não só em cada país mas também no campo internacional. A força da associação supre, pois, o poder da ciência que falta.

Ante este poder da associação de interesses, em cumplicidade com a ignorância e fanatismo do público, o indivíduo encontra‑se sem amparo e impotente para salvaguardar a sua saúde e a sua vida.

Até os governos se sentem dirigidos e dominados por estes interesses organizados que reclamam protecção e recursos onerosos em nome da “saúde pública”, à qual jamais poderão servir empregando agentes de morte como tóxicos, bisturi, raios x ou radium.

 

DOUTRINA TÉRMICA DE SAÚDE

Fonte: La Medicina Natural al Alcance de Todos”, de Manuel Lezaeta Acharan, EDICIONES CEDEL. Viladrau (Gerona), Barcelona. Ano de 1985. Quarta edição.

Este conceito é enunciado pela primeira vez no campo da Saúde humana e tem a seguinte história:

Corria o ano de 1899 quando entrei para a Escola de Medicina da Universidade do Chile, dirigida então pelo Dr. Polhamer. Entre outros, recordo os meus mestres David Benavente, de Anatomia; Dr. Adeodato García Valenzuela, de Química e Dr. Anrique, de Física. E dos meus companheiros, depois eminentes médicos, doutores Vargas, Salcedo, Díaz Lira, Guiglioto, etc..

Vítima das chamadas doenças sociais, vi‑me obrigado a interromper os meus estudos médicos, os que não reatei quando me dei conta do fracasso da medicina para restabelecer a Saúde.

Durante largos anos fui tratado por professores e especialistas de Santiago, com cujos dispendiosos tratamentos só obtive o agravamento das minhas doenças que se foram complicando de ano para ano.

Ante tanto fracasso da chamada ciência médica, dei‑me por vencido meu empenho de me livrar dos meus males, que me tornavam intolerável a vida e resignei‑me a morrer a curto prazo.

Fugindo de mim mesmo, cheguei num Verão a um povoado do Sul do Chile e na véspera do meu regresso à capital, um monge capuchinho tropeçou comigo à saída do hotel onde estava instalado e, olhando‑me fixamente interrogou‑me: “Vieste ver-me?” ¾ Não, padre, respondi. ¾ “Anda à minha consulta, porque estás muito enfermo”, acrescentou ele. Era o Padre Tadeo que, sem o procurar, a Divina Providência punha no meu caminho para me salvar a vida.

Abatendo o orgulho profissional que aos alunos se inculca na Escola de Medicina, apresentei‑me à consulta do Padre Tadeo, que observando a minha garganta me disse: “Dá graças a Deus por estar aqui, porque estás tão enfermo que, se não seguires o meu tratamento, vais morrer muito em breve”. Apesar de compreender a grande verdade deste juízo e, sentindo que cada noite era a última da minha vida, manifestei‑lhe que tinha em meu poder relatórios de exames médicos dos meus professores que garantiam a ausência de micróbios da infecção sifilítica no meu corpo e que agora era só vítima de neurastenia. “Enganas‑te tu e enganam‑se os médicos, a enfermidade encontra-se no teu sangue”, replicou-me o Padre.

Recebi a “receita” que prescrevia passeios a pé descalço pelo orvalho dos pastos ao nascer do sol, fricções e jorros de água fria a determinadas horas; envolturas de todo o corpo, alternando com vapores de caixa, excursões com subida a serros, etc..

Ainda que me parecesse difícil que com estas originais práticas pudesse recuperar a minha saúde perdida, submeti‑me a elas com pontualidade e constância.

Antes de quinze dias deste tratamento, abriu‑se‑me para mim um horizonte de felicidade e bem‑estar desconhecido, mas, ao mesmo tempo apareceu o abundante fluxo uretral que os médicos me haviam “curado” anos atrás, sufocando a sua expulsão do corpo e obrigando este a reter essas matérias corrompidas que me causaram inflamação prostática, estreitamento da uretra e até retenção da urina. Também se me incharam os gânglios das virilhas, axilas e pescoço, aparecendo além disso erupções e chagas em todo o meu corpo.

Com estas novidades volvi à consulta e disse‑lhe: “estou podre, Padre, veja o que me aconteceu”... “Estás salvo, agora vais expulsar a enfermidade que os médicos te deitaram no sangue”, foi a sua resposta.

Mais de um ano esteve o meu corpo eliminando pus pela uretra, chagas e abcessos, sem notar alguma complicação e sentindo cada dia a felicidade de viver nunca antes conhecida e a que graças a Deus conservo até à data, com 77 anos de idade.

Ante a eloquência destes factos, dei-me conta de que as drogas eram incapazes de devolver a saúde perdida e que esta só podia manter‑se e recuperar‑se mediante a acção dos agentes vitais que oferece a Natureza com o ar, a luz, o sol, a água fria, a terra, as frutas e vegetais crus. Tomei então a resolução de dedicar a minha vida inteira ao estudo, prática e difusão da verdade no que à saúde diz respeito, a que providencialmente havia chegado a conhecer à margem da medicina facultativa.

Durante nove anos segui a seu lado os sábios ensinamentos e práticas do Padre Tadeo de Wisent. Tendo este sábio capuchinho alemão abandonado o Chile para ir curar os leprosos da Colômbia, dediquei‑me a estudar as obras dos seus mestres, especialmente do célebre cura de Woerishoffen, monsenhor Sebastián Kneipp.

(Manuel Lezaeta Acharan)